Sentinela, Despertai e Alarmes

Domingo de manha, estava eu a tomar o pequeno-almoço quando bateram à porta, interrompi a meia de leite e fui ver quem era o madrugador. O primeiro contacto visual foi estranho, era uma jovem com aspecto de catequista, muito bem arranjadinha, cabelo cuidado e voz de sereia que contrastava com a minha voz rouca, natural de um Domingo de manha. – Olá Bom Dia, tem tempo para uma palavrinha? Pergunta-me com ar angelical.
- Deve conhecer as nossas revistas, Sentinela e Despertai. Neste momento já estava com um sorriso persuasivo.
Pensei para mim, deve ser vendedora de Alarmes, pelo nome das revistas.
- Desculpe mas já tenho Alarme no carro. Respondi eu com ar ingénuo que me caracteriza.
- Não, não, entendeu mal, eu sou Testemunha de Jeová, apenas queria dar-lhe a conhecer a palavra de Deus. Nesta altura o seu ar angelical já se tinha evaporado.
Foi nesta altura que encostei o meu corpo à porta e pensei alto”Fogo porque abri a porta.!!”
A jovem abriu uma das revistas e mostrou me algumas imagens, inicialmente pensei que estava perante um agente imobiliário da Remax, visto a quantidade de imagens bonitas e interessantes.
- Onde fica estes terrenos? Perguntei.
Ela sorriu, perante o meu interesse e respondeu. – Isto é o paraíso, e todos nós temos oportunidade de um dia lá viver.
Crianças brincavam com os pais, junto a animais selvagens, as árvores carregadas de frutos maduros, com ar apetitoso, os rios com uma cor azul nunca antes vista.
- Quanto custa um lote, tipo 3000 m2, junto ao rio?
- O paraíso não tem preço, está ao alcance de todos pendendo as acções tidas na terra.
Como nunca fui bom em trocadilhos e com a quantidade de burlões que existem por aí, não podemos facilitar, tudo bem que eles atacam os velhinhos reformados em aldeias remotas, mas podiam estar a mudar o esquema. Neste momento recordei todos os vendedores que me visitaram, desde o senhor dos colchões à menina dos aspiradores, todos me pediram dinheiro, agora esta técnica!!?. Terrenos no paraíso em troca de acções na Terra.
Em forma de despedimento disse. – Desculpe mas acabei de comprar carro, fiquei com uma prestação muita alta, não me posso meter noutra.
Ferrou os lábios e com um movimento digno da melhor ginasta olímpica deu meia volta e puxou o elevador. Foram 10 segundos de pura tensão, ela numa ponta do corredor eu na outra, esse momento transportou me para um filme de Clint Eastwood, ela fitava me com os olhos semi-fechados, quem vai sacar a arma primeiro…